Ao Grupo Pão de Açúcar (“Grupo”):
A organização representante da sociedade civil, Mercy For Animals, escreve aqui uma carta aberta demonstrando o nosso repúdio às declarações do Grupo feitas recentemente, na AveSui — maior feira de proteína animal da América Latina. As declarações não nos parecem sinceras com o público e pedimos transparência ao Grupo Pão de Açúcar!
Há quase 3 anos, várias ONGs e consumidores pedem ao Grupo Pão de Açúcar que anuncie um compromisso de parar de comercializar ovos de galinhas confinadas em gaiolas em todas as suas lojas. Atualmente nosso contato tem sido feito com a área de sustentabilidade do Grupo, representada pelas Sras. Susy Yoshimura e Camille Arnaud. Desde as primeiras reuniões que tivemos com o Grupo sobre esse assunto, em 2016, fomos informados que o Grupo tem a intenção de assumir um compromisso de venda exclusiva de ovos de galinhas livres de gaiolas, porém, ainda precisa de mais informações antes de aderir ao compromisso. Frequentemente o Grupo Pão de Açúcar afirma que está trabalhando para evoluir nessa questão e nos apresenta dados de mercado e iniciativas da marca, como a venda exclusiva de ovos cage-free na unidade localizada ao lado da sede do GPA.
No entanto, durante a Avesui deste ano 2019, o Grupo Pão de Açúcar, representado no evento pelo seu gerente de desenvolvimento, Sr. André Artin Machado, declarou publicamente, entre outras afirmações, o seguinte: “…O presidente não aguentava mais isso (referindo-se às campanhas). Toda vez tinha uns caras lá fazendo barulho, manifestação, tudo pacífico, lógico, a gente não pode influenciar, né? Eles entram na loja a gente não pode proibir entrada de loja, não quebram nada né? Mas também, criam um impacto muito negativo. E pra reduzir esse impacto decidiu-se que a loja do lado da sede não trabalharia mais com frango, com ovos regulares, convencionais. Isso não é uma política saudável, sustentável, isso daí foi pontual, pela questão pra minimizar esse impacto de mídia, né? Porque se não, a mídia vai lá, tira foto, e daí começa a alimentar cada vez mais o mercado de informações não certas. Mas a gente não tem o mínimo objetivo de passar essa prática porque a escala de produção é essencial (…). Então o nosso objetivo é também reduzir um pouco as pressões de ONGs, e saber que existe a cadeia nacional que tá basicamente desenhada pra uma produção em escala. Não adianta agora o GPA começar a forçar todo mundo a jogar a galinha pra fora, e fazer ela produzir ovos fora da gaiola. Isso é uma realidade que não existe”. Ou seja, o Sr. André afirmou que todas as iniciativas do Grupo em relação aos ovos de galinhas livres de gaiolas, inclusive o projeto-piloto de apenas comercializar ovos dessa categoria na loja número 1, têm o objetivo único de tentar reduzir as ações do público e das ONGs, já que ele afirma que o Grupo não tem nenhuma intenção de anunciar um compromisso de parar completamente com a venda de ovos de galinhas confinadas em gaiolas, tampouco de pedir que seus fornecedores mudem suas práticas.
No Brasil, mais de 100 empresas de alimentos, incluindo o Grupo Carrefour, Grupo Walmart, Rede Zaffari & Bourbon de Supermercados, Cia Beal de Alimentos e St. Marché, já anunciaram um compromisso de parar de comercializar ovos de galinhas confinadas em gaiolas em todas as suas lojas. O Grupo Pão de Açúcar é o único dos três maiores varejistas do país que ainda não o fez.
Sendo assim, estamos trazendo ao público o conhecimento sobre o assunto e demonstrando nosso repúdio às declarações do Grupo Pão de Açúcar. Nos parece que o Grupo Pão de Açúcar não está agindo de forma transparente acerca dessa questão, passando uma mensagem contraditória para várias ONGs e para os consumidores por anos, a nosso ver, motivado apenas pelo interesse de se proteger de críticas.
Nós esperamos sinceramente que o Grupo Pão de Açúcar mantenha sua palavra dada durante nossas reuniões, dê seguimento ao que tem falado no Brasil nos últimos anos e, portanto, anuncie um compromisso de comercializar apenas ovos de galinhas livres de gaiolas em todas as suas lojas no Brasil.